A Associação Arte Miriti de Abaetetuba, MIRITONG, participará da III Feira de Ciências do Acutipereira. Estabelecida no município de Abaetetuba, a MIRITONG será representada pelo jovem técnico agrônomo Edson Cardoso. Tive uma conversa com Edson ainda na hidroviária, logo após a chegada do navio Rei Salomão, em Portel.
Mas antes de ouvi-lo, visitei o site ARTESOL onde encontrei o seguinte texto, que "roubei" na maior sutileza, tudo em nome da arte:
As mãos que criam, criam o que?
Miriti é árvore santa
que vira rede,
cobre a cabana, vira cama.
Vira suco, mingau e até licor!
Dá sustento
pra mode a vida seguir seu balanço…
vira brinquedo,
passagem pro mundo de sonhos herdado.
Raquel Lara Rezende
que vira rede,
cobre a cabana, vira cama.
Vira suco, mingau e até licor!
Dá sustento
pra mode a vida seguir seu balanço…
vira brinquedo,
passagem pro mundo de sonhos herdado.
Raquel Lara Rezende
O braço do miriti, palmeira nativa de áreas alagadiças, vira canoa,
cobra, pássaro, gente. Brincar é uma das atividades mais importantes do
ser humano. Brincando se aprende a entrar no universo da imaginação e do
sonho. Os brinquedos são como um convite à criança e ao adulto, a
adentrarem esse universo mágico, onde tudo é possível. A produção dos
brinquedos envolve um processo de criação que é coletiva, pois a
inspiração para os temas que são talhados na palmeira tem como fonte os
mitos da região, a fauna e a flora, os costumes e as festas, como o
Círio de Nazaré, uma das maiores procissões do Brasil e do mundo. Dessa
forma, os brinquedos estabelecem o diálogo entre o real e o imaginário,
despertando o afeto e a sensibilidade daqueles que vivem no lugar e
podem ver nos brinquedos as histórias, lendas e o cotidiano da
comunidade. A produção dos brinquedos de muriti é uma herança indígena
que envolve, hoje, centenas de famílias na região de Abaetetuba, sendo
considerado um processo sustentável de produção, tombado como património
histórico cultural imaterial, pelo Instituto do Patrimônio Histórico e
Artístico Nacional (Iphan).
Contato Valdeci
As mãos que criam, criam o que?
“A floresta
dá muita coisa boa né? Mas uma é especial que é a miritizeira. (...)
pra mim, a árvore da bença ela tem um significado muito importante,
sabe? Porque ela salvou a minha vida. Ela oferece a matéria-prima que
salvou a minha vida, então tem um sentido muito especial. E eu passei a
amar mais as pessoas depois que eu passei a amar a floresta, sabe?”
Valdeli Costa, artesão.
Abaetetuba, que significa "reunião de homens verdadeiros", na língua tupi, é conhecida como a capital mundial do brinquedo de Miriti. Está localizada na região nordeste do estado do Pará, a 60 km de Belém, no Baixo Tocantins e possui uma rede hidrográfica bastante vasta, sendo quase toda navegável, contando com florestas de terra firme e de várzea. A cidade abarca um conjunto de 72 ilhas que são habitadas por comunidades ribeirinhas e quilombolas que possuem memórias, costumes e práticas culturais distintas.
A beira do rio Guamá é o ponto de encontro entre as comunidades que
vivem nas ilhas e a população urbana e por estar mais situada no cais da
cidade, abriga a mais rica feira do município. A localização facilita o
escoamento dos produtos trazidos de barcos ou canoas, pelos ribeirinhos
que vendem sua produção para os consumidores diretos, ou para os
atravessadores. Estes são uma figura muito tradicional na região que
navegam pelas comunidades, vendendo alimentos e toda espécie de produtos
utilizados no dia a dia. Sua importância é refletida na sua
representação presente na fabricação dos brinquedos. Uma das histórias
que circula na região conta que a cobra-grande – também representada nos
brinquedos - , protetora da beira, impede a mudança de local da feira.
Dizem que sempre que um prefeito pensa na possibilidade de mudar a feira
de lugar, a cobra-grande se põe a mexer e quebra calçadas, expressando
seu descontentamento.
A região de Abaetetuba possui miritizeiro em abundância, também conhecido em outras regiões do país como buriti. É chamada pelos paraenses de “árvore santa” ou sagrada, por sua importância na vida de muitas comunidades tradicionais que aproveitam toda a árvore, tendo o cuidado de manejá-la de forma sustentável, sem derrubá-la. O fruto é utilizado para a alimentação, a palha para a construção das cabanas, a fibra das folhas para a confecção de redes e os braços e a bucha, fibra conhecida como isopor da Amazônia, para a produção dos brinquedos.
Quem cria?A iniciativa de fundar a ONG veio do interesse em potencializar a
geração de renda familiar por meio dos brinquedos de miriti. A
singularidade dos brinquedos e do se saber fazer traz a eles grande
importância e valor cultural. O núcleo familiar é a principal forma de
organização das comunidades na fabricação dos brinquedos. Cada membro da
família possui uma função e todos trabalham juntos. Fazem parte da ONG
cerca de 150 famílias que se dividem em quatro grupos de trabalho
artesanal: Grupo Arte em Miriti Cores e Encantos da Amazônia; Grupo
Tauerá de Beja, cujas atividades são realizadas na zona rural (colônia)
onde, também desenvolve atividades com manejo da palmeira de Miriti, em
parceria com a Associação dos Moradores; Grupo Pirocaba; e Grupo da
Comunidade do Baixo Itacuruçá que se localiza na região das ilhas do
município.
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